Estava eu a pesquisar acerca de regras para escrever diálogos (dúvidas acerca do tipo de pontuação a usar), quando me deparei com este artigo interessante no blog da Sara Farinha.
Vou copiar para aqui o artigo, obviamente dando-lhe os devidos créditos e citando a fonte no final.
«Quais os cuidados a ter ao criar um diálogo?
Cuidado com as marcações do diálogo
– As marcações são as palavras que colocamos antes ou depois do
diálogo, como por exemplo: “ele disse”, “ela perguntou”, “respondi”.
Cuidado com a tendência de colocar
palavras como “sussurrou” ou “gritou”. Normalmente chega colocar um “Ele
disse” e evitar ao máximo usar estes complementos. Quando as
personagens começam a “gaguejar de forma estranha”, a “opinar” ou a
“rir”, acabamos por distrair os leitores do próprio diálogo.
Normalmente também conseguimos evitar
adjectivos. Num bom diálogo, os leitores sabem o que é dito “com
alegria” ou “gritado furiosamente”.
Basear o diálogo numa cena
– É fácil cair na armadilha das marionetas, duas personagens que
discutem algo sem texto que o suporte. Todas as conversas ocorrem em
algum lugar, e esse local ou cena é importante no diálogo. Ou seja: Onde
estão as personagens? Num café movimentado, a conduzir o carro, em
casa? Quem está perto dele? Pessoas estranhas, crianças, o chefe?
Não devemos ter acção ou descrição a
seguir a cada linha de diálogo, mas precisamos de criar um ambiente,
onde as personagens estejam localizadas fisicamente.
Os diálogos telefónicos acrescem em
dificuldade. As personagens não estão frente-a-frente, pelo que podemos
acrescentar profundidade às cenas usando tons de voz e adicionando
ruídos de fundo às cenas.
Uso de dialectos e de pronúncias com cautela
– Não abusar das palavras escritas noutros dialectos ou com pronúncias
estrangeiras. Isto atrapalha a compreensão do texto, e pode causar
outras complicações como tornar o texto ofensivo ou cómico, sem haver
motivos para isso.
Normalmente, menos é mais. Uma personagem
Escocesa não precisa de soar como um poema de Burns, basta uma
expressão ocasional e o leitor capta a ideia. Assim como se tivermos uma
personagem que seja menos letrada ou que não usa a gramática
correctamente, não devemos sobrecarregar o texto com esses erros.
Algumas expressões vão estabelecer a “voz” da personagem, não sendo
necessário retirar letras em todas as palavras.
Não deixar uma personagem monopolizar o diálogo
– Normalmente não discursamos nas nossas conversas, na vida real. Em
algumas situações, uma pessoa pode falar durante alguns minutos, numa
palestra ou num discurso, mas isto limita-se a ocasiões especiais.
É preciso cortar os grandes blocos de
discurso de uma só personagem. As outras personagens podem solicitar
clarificações, ou interromper o discurso, ou introduzir respostas não
verbais das outras personagens (acenar, suspirar, franzir o sobrolho…).
Se o enredo exigir um grande discurso de
um só personagem, é preferível mostrar algumas frases do início e do
fim, e apresentar um sumário narrativo do que foi dito. Isto é
suficiente para o leitor entender a história.
Realístico não significa Real
– O diálogo deve proporcionar uma sensação de realidade, mas não deve
ser uma transcrição de como realmente falamos. Não é aconselhável
colocar os “hums”, hesitações e repetições, porque torna-se aborrecido
para o leitor quando o sobrecarregamos com maneirismos das conversas
reais.
Cada personagem tem um padrão distinto de discurso –
As personagens não podem soar todas da mesma maneira. À semelhança da
realidade, cada um de nós tem uma forma de falar, uma “voz” própria,
distinta de todas as outras. Para além desta diferença entre iguais, há
ainda distinções em função da idade da personagem. O discurso de alguém
de 13 anos é diferente de alguém de 70. Assim como de género, homem e
mulher exprimem-se de forma diferente. Ou diferenças relacionadas com a
classe social, a zona geográfica, entre outras. Todas estas
características reflectem-se nas muletas verbais usadas, que mudam de
pessoa para pessoa, e da verbosidade da personagem.
Um bom truque é separar o diálogo das
personagens, retirar as marcações do diálogo e a acção e ver se
conseguimos identificar quem disse o quê.
Não colocar texto expositivo no diálogo – Às vezes é preciso reunir informação sobre as personagens, mas não devemos forçar estes esclarecimentos no diálogo.
Igualmente, devemos evitar diálogos
óbvios entre personagens, ou seja, diálogos com informação que o outro
personagem já deveria saber. Se o quisermos fazer devemos assegurar-nos
que a conversa é apropriada. Dois amigos que não se vêem há 10 anos,
podem colocar a conversa em dia e dar detalhes da sua vida. Aqui a
informação não seria óbvia porque as personagens não se relacionaram
durante uma certa quantidade de tempo.
Usar o silêncio assim como o diálogo
– Às vezes, o que não é dito é mais poderoso do que aquilo que é. Se um
personagem diz “Amo-te” e o outro não diz nada em retorno, normalmente é
mais forte do que uma resposta do género “OK” ou “Também.”
Quando uma personagem se recusa a
responder a uma questão, ou a falar com uma pessoa em especial,
imediatamente percebemos que algo se passa, sem o autor ser demasiado
expositivo, como por exemplo, “João não gostava de falar sobre o seu
casamento” ou “João ignorou a chamada no seu telemóvel.”
Chega tarde e vai embora cedo
– O diálogo não tem de começar na primeira palavra e terminar na
última. Se alguém está ao telefone, corta os “Olá, como estás?” “Bem, e
tu?”, porque o leitor não está interessado neles, e não acrescentam nada
de útil ao diálogo.
Outra dica é terminar uma cena numa das
linhas do diálogo. Não precisamos de ler a resposta da outra personagem,
porque a informação estará subjacente à conversa que vinha a decorrer.
Não precisa de terminar com “Adeus, até à próxima”.
Usar correctamente as regras do diálogo
– Um diálogo deve ter uma linha para a fala de cada personagem. Pode
ter aspas duplas (“ para EUA) ou simples (‘UK) a delimitar o que é dito,
ou então usar os travessões para delimitar esse texto ( – Europa).
Nesta última situação, o travessão precede a fala e separa-a da
intervenção do narrador.
A pontuação deve ser colocada dentro das
aspas, terminando uma linha de diálogo com uma vírgula, se estivermos a
adicionar texto de marcação, ou com pontuação final (ponto final,
reticências ou ponto e vírgula) se estivermos a adicionar uma acção.
Por exemplo:
“Podes chegar aqui?” disse Joana. “Precisamos de falar.”
“Sobre o quê?”
“Como se não soubesses.” Ela cruzou os braços.
O diálogo bem construído impulsiona a acção, enquanto se mantém o leitor devidamente informado e interessado.»
Fonte: http://sarinhafarinha.wordpress.com/2011/12/15/recursos-do-escritor-regras-para-escrever-bons-dialogos/