«Não
sou português. Sou mais do que a nação me permite ser. Ficar restrito à
noção de identidade nacional limita-me, cerca-me bovinamente na ideia
de que sou apenas um país. Mas eu não sou somente um país. Sou uma
multiplicidade de identidades universais. Um império.
Descobri
que o meu amor à pátria não se limita à identidade territorial da
fronteira ou do povo, mas à transcendência da língua que abraça o mundo.
O amor que eu pensava ter pela nação era, afinal, um amor transversal
pela língua que me dá voz. Mais do que português, sou lusófono. Cidadão
do mundo. Há em mim Brasil, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo
Verde, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste. Até um pouco de Goa. Macau. E
Portugal, o país onde nasci. Mas sou mais do que português, sou mais do
que o fascínio do povo que desvendou a Terra. Sou lusófono, aquele que
une em vez de dividir, aquele que é plural em vez de singular. O homem
que pisa o mundo sabendo que, por falar Português, pertence à amplitude
que a universalidade permite.
Ser
somente português, angolano ou brasileiro é reduzir a multiplicidade da
língua ao limite da nação. Pertencer ao legado da lusofonia é afirmar,
todos os dias, a pluralidade humana. E como ser plural e consciente que
sou, afirmo que não, não sou português. Sou e serei sempre lusófono,
aquele que procura unir em vez de fragmentar, o que anseia a liberdade
plural em vez da castração isoladora.
Sejamos
lusófonos! É hora de todos os falantes do Português assumirem que não
estão confinados a fronteiras e que a língua pode e deve unir todos os
que a partilham. A lusofonia engrandece os que lhe pertencem. Não por
ser mais ou melhor que as restantes línguas do mundo. Não. Nenhuma
língua do mundo é mais ou melhor. Mas quem fala Português sabe e sente
que pertencer à lusofonia é pertencer não a um país ou nação, mas a todo
o mundo. Um império. O quinto, segundo alguns.»
Samuel Pimenta
Fonte: Rede Regional
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