segunda-feira, 3 de junho de 2013

O Quinto Império, por Samuel Pimenta

«Não sou português. Sou mais do que a nação me permite ser. Ficar restrito à noção de identidade nacional limita-me, cerca-me bovinamente na ideia de que sou apenas um país. Mas eu não sou somente um país. Sou uma multiplicidade de identidades universais. Um império.
Descobri que o meu amor à pátria não se limita à identidade territorial da fronteira ou do povo, mas à transcendência da língua que abraça o mundo. O amor que eu pensava ter pela nação era, afinal, um amor transversal pela língua que me dá voz. Mais do que português, sou lusófono. Cidadão do mundo. Há em mim Brasil, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste. Até um pouco de Goa. Macau. E Portugal, o país onde nasci. Mas sou mais do que português, sou mais do que o fascínio do povo que desvendou a Terra. Sou lusófono, aquele que une em vez de dividir, aquele que é plural em vez de singular. O homem que pisa o mundo sabendo que, por falar Português, pertence à amplitude que a universalidade permite.
Ser somente português, angolano ou brasileiro é reduzir a multiplicidade da língua ao limite da nação. Pertencer ao legado da lusofonia é afirmar, todos os dias, a pluralidade humana. E como ser plural e consciente que sou, afirmo que não, não sou português. Sou e serei sempre lusófono, aquele que procura unir em vez de fragmentar, o que anseia a liberdade plural em vez da castração isoladora.
Sejamos lusófonos! É hora de todos os falantes do Português assumirem que não estão confinados a fronteiras e que a língua pode e deve unir todos os que a partilham. A lusofonia engrandece os que lhe pertencem. Não por ser mais ou melhor que as restantes línguas do mundo. Não. Nenhuma língua do mundo é mais ou melhor. Mas quem fala Português sabe e sente que pertencer à lusofonia é pertencer não a um país ou nação, mas a todo o mundo. Um império. O quinto, segundo alguns.»

Samuel Pimenta

Fonte: Rede Regional

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